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Até a Última Gota (Netflix): o que esse filme tem a nos ensinar sobre escuta, cuidado e colapso emocional?

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  “Você está bem?” Quantas vezes essa pergunta é feita apenas por educação, sem a intenção real de ouvir a resposta? O filme Até a Última Gota, dirigido por Tyler Perry e disponível na Netflix, nos confronta com essa pergunta — e com o silêncio ensurdecedor que tantas pessoas carregam. A protagonista é uma mulher negra, mãe solo, que cuida de uma filha com deficiência. Ela enfrenta uma série de violências cotidianas: sobrecarga, solidão, abandono afetivo, racismo e pressão social. Tudo isso vai se acumulando… até que o colapso explode em rede nacional. O que o filme revela? Desde as primeiras cenas, a sonoridade da dor e da exaustão toma conta da tela. É um filme sobre o silêncio de quem não é ouvido. Sobre o que acontece quando ninguém percebe o pedido de socorro que não vem em palavras. Mas também é um filme sobre o poder da escuta — mesmo quando chega tarde. Quem escolhe escutar muda a história. A amiga, que percebe os sinais. A detetive, que enxerga a mulher além do rótulo. A g...

Adolescência, além dos muros: o que a série da Netflix revela sobre a dor silenciosa das famílias

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Ontem assisti à série Adolescência , da Netflix. Do início ao fim, ela é angustiante. Apesar da minha experiência atuando em unidades socioeducativas — femininas e masculinas —, a série me confrontou com algo que raramente conseguimos enxergar de forma integral no cotidiano institucional: a vivência das famílias, especialmente das mães, que permanecem do lado de fora, mas sentem a dor tão intensamente quanto quem está privado de liberdade. Na prática profissional como assistente social, lidamos com os adolescentes, com os prontuários, com as medidas, com a reintegração. Mas muitas vezes, mesmo nos nossos melhores esforços, a família aparece de forma fragmentada: como visita, como responsável legal, como contexto social. Difícil é ver — ou ter tempo para ver — a complexidade do sofrimento emocional dessas famílias. Na série, a família de Jamie não tenta apenas entender o que aconteceu. Ela busca, o tempo todo, justificar ausências, encontrar falhas em si mesma, assumir culpas que tal...

Mãe Sempre Sabe? – Um convite à escuta, acolhimento e prática profissional com propósito

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  Por que precisamos falar sobre acolhimento familiar e diversidade no Serviço Social Vivemos em um tempo em que as vozes LGBTQIAPN+ ecoam com mais força, mas ainda enfrentam silêncios pesados — principalmente dentro das próprias famílias. O livro “Mãe Sempre Sabe?” , de Edith Modesto, nos apresenta relatos reais, tocantes e muitas vezes dolorosos de mães que vivenciaram a descoberta da orientação sexual de seus filhos e filhas. Algumas com acolhimento imediato. Outras com medo, culpa, rejeição ou processos longos de negação. O título é uma provocação. Nem sempre a mãe "sabe". Mas quando escuta, se permite aprender, ressignificar e reconstruir. 👂 E o que isso tem a ver com o Serviço Social? Tudo. Porque atendemos pessoas. Atendemos histórias atravessadas por conflitos, preconceitos, violências e, às vezes, solidão. E muitas dessas histórias têm início — ou impacto profundo — no ambiente familiar. No cotidiano da atuação, seja na assistência, na educação, na saúde ou no...

🎬 This Is Us : uma série que nos convida a sentir, refletir e praticar empatia – um olhar do Serviço Social

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A série This Is Us conquistou o público por sua narrativa sensível, comovente e, acima de tudo, humana. Para além do entretenimento, ela é uma verdadeira aula sobre relações familiares, saúde mental, identidade, adoção, pertencimento, luto e reconstrução afetiva — temas que atravessam diretamente a prática de nós, assistentes sociais. 💡 Por que This Is Us importa para o Serviço Social? Porque nos faz lembrar que por trás de cada demanda está uma história , muitas vezes não dita, silenciada ou fragmentada. E é nesse ponto que a série se conecta profundamente com a nossa atuação: ela nos convida a olhar com escuta , entender os vínculos , os afetos, os traumas, os ciclos que se repetem — e os que tentam ser rompidos. 📌 Temas que atravessam a série e o nosso fazer profissional: ✅ Adoção e identidade – A história de Randall é um exemplo forte de como o processo de adoção envolve muito mais do que acolhimento. Fala sobre pertencimento, construção da identidade racial e familiar, e as f...

A Virgem Vermelha: uma história real que nos desafia a pensar o Serviço Social para além do visível

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O filme A Virgem Vermelha (2024), dirigido por Paula Ortiz, é baseado na história real de Hildegart Rodríguez, uma jovem prodígio criada por sua mãe, Aurora Rodríguez, para ser a mulher perfeita do futuro. Intelectual precoce, ativista socialista e defensora dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres nos anos 1930, Hildegart era o "projeto de vida" de sua mãe — até o momento em que tentou seguir seus próprios caminhos. Ao buscar autonomia, Hildegart rompeu com as expectativas de Aurora, que não suportou vê-la fora do roteiro que havia traçado. O desfecho da história é trágico, mas profundamente simbólico. Por que esse filme importa para o Serviço Social? Porque ele não é apenas uma biografia. É um retrato doloroso sobre os limites entre cuidado e controle, sobre relações familiares adoecidas, e sobre como o amor, quando marcado por dominação, pode se tornar destrutivo. A história de Hildegart nos obriga a refletir sobre temas centrais da nossa prática: ✔️ Autonomia e pr...

Resgatando a Mulher Selvagem: uma leitura essencial para assistentes sociais que trabalham com grupos de mulheres

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Em nossa atuação como assistentes sociais, especialmente junto a grupos de mulheres, buscamos constantemente ferramentas que possibilitem espaços de escuta, fortalecimento de vínculos e resgate da autonomia. É nesse contexto que trago uma indicação de leitura que tem me atravessado profundamente: o livro Mulheres que Correm com os Lobos , da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés . Trata-se de uma obra que vai além da leitura técnica: ela nos convida a uma escuta simbólica, poética e profunda da alma feminina — algo essencial em tempos em que a subjetividade tem sido cada vez mais medicalizada, silenciada ou invisibilizada. Uma citação que ecoa: “Dentro de cada mulher vive uma vida secreta, uma força poderosa cheia de bons instintos, paixão criativa e sabedoria eterna. Ela é a Mulher Selvagem, a guardiã da alma feminina.” Essa frase sintetiza o que muitos de nossos grupos buscam: reconexão com a própria voz, com a intuição e com os desejos mais autênticos. Ao trabalharmos...

Homecoming: De Volta à Pátria e as Reflexões para o Serviço Social

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  A série Homecoming: De Volta à Pátria nos convida a refletir sobre controle institucional, saúde mental e o impacto das políticas sociais na autonomia dos sujeitos. O que torna essa narrativa ainda mais instigante é o fato de a protagonista, Heidi Bergman (interpretada por Julia Roberts), ser uma assistente social inserida em um programa de reintegração para veteranos de guerra. A proposta do projeto, em tese, seria oferecer suporte para que esses ex-combatentes voltassem à vida civil com mais estrutura e equilíbrio emocional. Mas, conforme a trama avança, percebemos que a "assistência" oferecida está longe de ser ética e respeitosa. O que parecia um programa de acolhimento revela-se um experimento de manipulação psicológica, onde a autonomia dos participantes é completamente anulada. Serviço Social e o Perigo do Controle sobre os Sujeitos Esse enredo traz questionamentos essenciais para o Serviço Social. Até que ponto determinadas políticas públicas realmente promovem a em...